segunda-feira, 11 de julho de 2011
Em Busca de Respostas!


Era uma vez uma umas noites juninas, de um certo Festival, alias, do Festival de Quadrilhas do Rio Grande do Norte.
No terreiro, passeiam os saberes e fazeres dos idosos, adultos, adolescentes e crianças, que são apaixonadas por São João.
- Oxênte!!!
Eles buscam e vivem a sua paixão, ou esperam por quatro, cinco, seis a sete pessoas que anunciem suas opiniões falando ao final de tanto amor, quem é o melhor?
Povo junino, vocês são corretos, especiais e únicos, exatamente do tamanho que você é, e isso, é maravilhoso, pois quem agradece por estes momentos é Deus, São João, o país, a região, o estado, o município, e especialmente o povo que vos assiste. Competição não é paixão, não é amor, competição é técnica, por isso, existe um corpo de jurados que não é o todo poderoso, o sabedor e criador de todas as coisas, mais sim, um avaliador de uma noite apenas e nada mais.
A vitória é o objetivo geral, porém só se conquista no dia em que ninguém que faz parte deste processo competitivo tem à sensação do medo. A vitória se conquista quando todos estão concentrados e centrados no que apreenderam e experimentaram durante o processo de criação e conclusão da obra.
São míseros os tostões oferecidos pela vitória, e caríssimos o suor derramado e o material empregado nas artes juninas, pois só os apaixonados por São João fariam isso, gastar o que não tem e viver o que mais precioso o homem tem na vida, a sua cultura. Sei que o prêmio financeiro poderá até ajudar nas despesas, mas não pagariam os dias e as noites dedicadas na construção desta arte que só vocês sabem fazer tão bem, e que não tem preço.
Nunca observamos os dois lados. Afinal, somos apaixonados pelo que fazemos e os que criamos, por isso observaram apenas o nosso lado. As dificuldades são as mesmas, por um lado, o de construir e realizar nossa releitura do ciclo junino, com nossa verdade e nossa paixão, do outro lado, os que julgam aquilo que não tem julgamento, afinal, o ciclo junino é uma manifestação sócio-cultural incomparável, e se perdeu no tempo, conquistando e produzindo novas formas de celebrar. Agora, transformada em uma mercadoria globalizada, que substimam a espontaneidade do povo.
Então, “todo projeto supõe ruptura com o presente e promessas para o futuro..., as promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores” (Godatti, 1994, pág. 579).
Amigos, a cultura é dinâmica, e com ela, cria-se as leis, os códigos o passo a passo de sua ação, retirando do povo o elemento espontâneo construindo-se uma técnica para induzir o mercado negro da Cultura Popular, através de itens que vão desoriginalizar a característica de uma sociedade, para produzir a arte de representar o original.

Itens? Que itens são estes?!

TEMA: Como fazer, o que fazer e pra quem fazer? Afinal cada competição tem suas leis.
Então é necessário recorrer à técnica da redação: Introdução, desenvolvimento e conclusão. Como se trata da arte da espetacularidade é preciso: clareza, leveza, objetividade, determinação e acabamento, pois seu elemento principal é a estética.
APRESENTADOR: Este personagem é o responsável pela explicação da obra, elemento conhecedor dos mínimos detalhes. Eloqüente, verdadeiro, cúmplice, vendedor e convincente, o relator do tema. Seu estado de espírito produz uma fé cênica incomensurável, afinal como narrador e condutor da obra, terá que ter a arte do movimento, da oratória e muita clareza nos seus atos e nas suas palavras diante do público e dos jurados.
ROTEIRO MUSICAL: Este item tem a responsabilidade de nos remeter e nos situar historicamente e geograficamente na atmosfera que vamos criar e apresentar, é o pulmão da obra que apresentamos, e o coração que nos faz sentir o que estamos vivendo, para nos fazer acreditar no que estamos vendo.
FIGURINO: Tudo que não dar condição de se movimentar, esta contra este item. Cenário, adereço e vestuários devem ter coerente com tema central e não pode incomodar o brincante. Sua leveza e seu acabamento estão ligados a beleza plástica, a estética, a mobilidade dos movimentos, direções e passos apresentados. Sua história, sua cor e suas características devem me levar à verdadeira historia do que eu quero representar, sem perder a essência do tema abordado e da época em que está acontecendo.
COREOGRAFIA OU EVOLUÇÃO: Regido pelo apresentador ou mercador este é o item responsável pela matemática e geometria dos passos e das formas criadas na apresentação. Não havendo uniformidade, não havendo condição de um brincante realizar com destreza, a coreografia estará prejudicada. O grupo corre um sério risco de não obter os pontos desejados a partir deste item, por está ligado a música, o ritmo, a melodia, a clareza dos gestos de maneira musical, leveza, forma, volume, planos e determinação ligando a cadência ao compasso. O brincante precisa conhecer o tempo da música.
A Corpo será a música, a interpretação a verdade.
CASAMENTO: Teatral ou em forma de operante é necessário que o interprete articule bem a boca e que seus gestos sejam vigorosos e verdadeiros, é preciso sentir e, fazer sentir o que se fala ou canta. É necessário aprender a ler para que se possa realmente interpretar o que diz, e preciso saber o que fala para o jurado, para a platéia e para o seu parceiro de cena, pois se trata de um teatro, e o local da ação é uma arena.
ANIMAÇÃO: É o grande problema das quadrilhas juninas. Gritos e exageros de gestos não é animação. Para se trabalhar animação é preciso trabalhar dinâmicas de grupo, e se conter a emoção, pois na realização das coreografias e necessário direção e equilíbrio emocional, para não se confundir: prazer, satisfação e alegria com estéria.
Os emocionados prejudicam a estética, a forma, o passo e a evolução. É preciso, que o coreografo seja vigilante com estes indivíduos, e cobre deles no ensaio, porque na hora “H”, não se pode ser o salvador da pátria.
Verdade, respeito, simplicidade, cumplicidade, equilíbrio. São estes elementos que dão a atmosfera da verdadeira obra a ser realizada, é preciso ter foco, objetivo, e isso, requer equilíbrio, pois os excessos nos levam ao prejuízo, e o conhecimento, ao sucesso.
“AMAR É CUIDAR, E SE CUIDAR!”
Competição é um amor bandido, pois no fogo da nossa paixão podemos está acabando com o nosso amor, e como a arte tem seu preço, é necessário que como categoria de classe, nós nos organizemos deixando de ser um mero brincante cheio de soberba, para ser um militante da bandeira Junina. Ser aluno, ser humilde e ser curioso lhe leva a se fazer existir por todo o ano, e não só no período junino, afinal não existe São João sem vocês. Pois um grupo social sem visão não faz sucesso, uma categoria de classe desorganizada estará sempre na linha da pobreza extrema, e sabemos que o mundo é feito por oportunistas, mas também, cheio de oportunidades.
Entretanto, eu acredito em vocês, eu acredito na cultura junina, acredito no futuro, e ele está bem próximo, acredito na verdade que todo o ano move vocês para um verdadeiro espetáculo de emoção e sabedoria, como um colírio para os meus olhos e um bálsamo para minha alma de artista, louco para apreender todos os dias com as oportunidades que a vida me oferece, e ser julgador é uma oportunidade impar para meu aprendizado.
Parabéns a todos pelos trabalhos apresentados, inclusive aqueles que não atingiram seus objetivos quantitativos, acredito que títulos são títulos, mas qualidade é raridade, e vocês foram raros para o São João do meu RN e da minha Natal, meus amados potiguares juninos, pois a resposta de quem faz está no trabalho que realiza e nos erros que cometem.

Viva São João!


Dimas Carlos
Profº Coreografo

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